Sábado do silêncio
Leitura bíblica
Mateus 27:62-66, Lucas 23:54-56, Isaías 53:8-12.
“Não posso sequer começar a imaginar”.
É uma resposta a que me habituei como alguém que escreve sobre o luto e o sente frequentemente. É tudo dito com boas intenções, claro, um aceno de cabeça à gravidade da situação, mas, sobretudo, o que quero dizer em troca é: “Sim, claro que pode”. Esta vida dói, certamente todos nós já sentimos isso.
Há um luto periférico, a dor que encontramos em tweets e manchetes, sentindo a perda de alguém que em tempos conhecemos ou que nunca conheceremos. É do tipo quando passamos por um corredor de hospital, culpados por estarmos a sair tão obviamente inteiros, e, no entanto, tão inequivocamente quebrados.
Há um luto próximo, dores de simpatia pelas pessoas que amamos e com quem trocaríamos de lugar num instante. Se ao menos pudéssemos ser nós, podíamos tratar das nossas próprias feridas e saber exactamente onde doía. Mas, em vez disso, visitamos, sentamo-nos, esperamos, fazemos o nosso melhor.
Depois há o luto íntimo, as dores profundas que nos moldam e nunca nos deixam da mesma forma. Este tipo de dor conduz-nos a uma realidade inteiramente nova, onde nos perguntamos se alguma vez voltaremos a encontrar alegria. E, ao mesmo tempo, também nos questionamos se queremos ou não, se merecemos.
Sábado do silêncio – o dia entre a crucificação e a ressurreição de Jesus: convida-nos às três dimensões da dor, uma demonstração de como esta vida pode ser desoladora. Após a morte de Jesus, vemos as dúvidas silenciosas dos espectadores na multidão, sentimos a perda experimentada pelos Seus discípulos mais próximos, e entristecemo-nos intimamente com a separação do Nosso Pai do Seu Filho. Com toda esta evidente dor, não é de admirar que hesitemos em acreditar nas promessas de boas notícias que nos foram feitas. E, no entanto, aqui está a parte mais importante da leitura de hoje:
No dia seguinte de manhã, que era sábado, os chefes dos sacerdotes e os fariseus foram ter com Pilatos e disseram: “Senhor governador, nós lembrámo-nos que aquele impostor, quando ainda vivia, afirmou: “Passados três dias, hei de ressuscitar.” Por isso, dê ordens para que o túmulo seja guardado com segurança, até ao terceiro dia. Caso contrário, os discípulos são capazes de ir roubar o corpo e dizer depois ao povo que ele ressuscitou! E esta última mentira seria ainda pior do que a primeira.” (Mateus 27.62-64).
Embora a cena estivesse cheia de tristeza e dúvida, o túmulo continuava a ser protegido por guardas. Enquanto diziam ter medo de que os Seus seguidores lhes roubassem o corpo, parte de mim quer acreditar que há aqui uma verdade maior em jogo: Mesmo aqueles que se opunham a Jesus acreditavam que havia uma hipótese de Ele cumprir as Suas promessas.
Independentemente de sentirmos a dor a vir de todos os lados, ou de não nos sentirmos capazes de acreditar que Deus é quem Ele diz ser, a ressurreição ainda vem. A Páscoa ainda acontece. Jesus oferece o tipo de misericórdia que nem sequer posso começar a imaginar ou compreender. Graças a Deus, cuja fidelidade é boa e cujas promessas são verdadeiras. Amém!