Uma introdução à quaresma
Leitura bíblica
Mateus 4.1-17; Hebreus 4.14-16; Atos 3.19-21; Isaías 55.1-13.
Após o Seu batismo e antes do início do Seu ministério na terra, o Filho de Deus encarnado entrou no deserto, sem comida ou bebida. Ele jejuou durante quarenta dias e quarenta noites, diz-nos a Escritura, e depois “o tentador aproximou-se dele” (Mateus 4.3). Faminto e sedento, e sem ter nada tangível de valor, Jesus foi tentado a tomar posse do poder, a testar o amor do Pai por Ele, a fazer para Si um banquete de pão para saciar o Seu corpo enfraquecido. Quando a Sua fraqueza humana foi recebida com tentação, como é que Ele respondeu? Usando as palavras da Escritura, Ele voltou-se para o Pai.
Em vez de procurar o que o mundo diria que Ele precisava, Jesus agarrou-se ao que não podia viver sem Ele: “Ele respondeu: ‘Está escrito: O homem não deve viver só de pão, mas de cada palavra que sai da boca de Deus” (Mateus 4.4). Em vez de se render às seduções do diabo, Jesus entregou-se ao Pai e glorificou-O: “Adorai ao Senhor vosso Deus, e servi-Lo somente” (v.10).
A nossa cultura vê a mão vazia como a mais baixa das condições. Somos treinados para encontrar o nosso valor em utilidade e estatuto, e para procurar a alegria nas nossas posses. Na hipótese remota de encontrarmos as nossas mãos vazias, rapidamente recolhemos algo para nos agarrarmos a algum trabalho ou riqueza, algum dever ou distração para ocuparmos os nossos corpos e entretermos as nossas mentes. Mas este evangelho de mãos cheias não é a mensagem de Jesus.
A Quaresma é uma época em que mais uma vez nos lembramos que a nossa esperança e força se encontram em nada mais do que na cruz de Cristo. Ao envolvermo-nos na leitura diária das Escrituras, oração, confissão e arrependimento, nestas semanas que conduzem à crucificação e ressurreição de Jesus, reeducamos os nossos corações para abraçar a salvação que não podemos ganhar. Viemos de mãos vazias quando lhe demos a nossa vida pela primeira vez, e não temos nada nosso, ao regressarmos agora a Ele – apenas o que Ele nos deu livre e de Graça.
Esta caminhada de quarenta dias no deserto irá colocar-nos frente a frente com a profundidade da nossa falta, a nossa fragilidade humana e o nosso pecado. Mas levar-nos-á à cruz, onde o nosso Sumo Sacerdote, que modelou a perfeita dependência do Pai, nos mostrará o custo do nosso perdão nas marcas do Seu corpo, mesmo quando Ele nos convida a receber misericórdia.
A Quaresma é um convite para abater tudo o que recolhemos a fim de nos apoderarmos do Único que pode verdadeiramente satisfazer os anseios mais profundos do nosso coração. É um convite a voltar atrás, e experimentar uma época de refrescar as nossas almas (Atos 3.19). Venha com as mãos abertas e receba livremente (Isaías 55).